Nem sempre orar significa ver as circunstâncias se transformarem diante dos nossos olhos. Sermos retirados de algumas situações, muitas vezes não é o plano de Deus.
Às vezes, as situações permanecem as mesmas, mas algo profundo acontece dentro de nós. Se olharmos bem e estivermos sensíveis e de corações abertos, veremos que Deus, em Sua grandiosa sabedoria, pode não remover o problema, mas nos moldar através dele.
A oração não é apenas uma chave para mover o céu, mas também um instrumento para alinhar o nosso coração com o do Pai.
Transformando o interior
“Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito estável.”
Salmos 51:10 (NVI)
Muitas vezes buscamos a oração como um meio de mudança externa, esperando que Deus resolva algo que nos incomoda. Mas, assim como Davi entendeu, o verdadeiro poder da oração está em transformar o interior. Quando dobramos os joelhos, abrimos o coração e permitimos que o Espírito Santo revele o que precisa ser curado, o que precisa morrer e o que precisa florescer.
Precisamos dizer a Deus nossos desejos, sonhos e projetos. Não com o intuito de apenas receber e fazê-lo seguir nossos passos, mas e nos expor à Sua presença e permitir que Ele toque o que está escondido, modificando nosso coração para que nós sigamos os passos d’Ele.
Não é sobre convencer o Senhor a agir de acordo com o que pensamos, mas deixar que Ele nos convença a viver segundo a Sua vontade. Isso pode frustrar nossos planos e podemos até pensar que Ele não está escutando nossas orações.
A oração muda o rumo do coração antes de mudar o rumo das circunstâncias.
E, quando somos transformados, o modo como enxergamos o mundo também muda. Talvez o que parecia insuportável, passe a ter sentido. Talvez o que parecia perda, se torne aprendizado. A oração não altera a realidade, mas nos ensina a enxergá-la com os olhos da fé.
O verdadeiro milagre
“Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua.”
Lucas 22:42 (NVI)
Jesus, no Getsêmani, nos mostrou a oração mais sincera e corajosa que existe: aquela que entrega o controle. Ele sabia o que viria, mas escolheu submeter-se ao plano do Pai. Essa é a essência da oração madura, não a que busca evitar a dor, mas a que pede força para atravessá-la.
Deus não muda as circunstâncias apenas porque pedimos, e isso não quer dizer que Ele te ame menos porque não faz aquilo que você tanto sonha, ao contrário, Ele te ama tanto ao ponto de frustrar seus planos, para que você entenda que Ele tem muito mais guardado para você.
Ele muda o coração para que possamos suportar o processo e reconhecer a Sua soberania, porque só assim crescemos e amadurecemos. A vontade d’Ele sempre é boa, perfeita e agradável (Romanos 12:2), ainda que não se pareça com o que imaginamos.
Quando oramos e dizemos “seja feita a Tua vontade”, abrimos mão do controle e permitimos que o Senhor escreva a história de forma mais sábia do que poderíamos planejar. A entrega se torna o maior ato de fé: crer que, mesmo quando nada muda, Deus continua sendo bom.
Em meio a tempestade
“E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus.”
Filipenses 4:7 (NVI)
Quando a oração não muda o que está ao nosso redor, ela nos dá o que precisamos para permanecer firmes: paz. Essa paz não vem da ausência de problemas, mas da presença constante de Deus. Paulo escreveu essas palavras na prisão, e ainda assim falava sobre alegria e descanso espiritual, porque sua alma já estava livre, mesmo que seu corpo estivesse preso.
A oração nos transporta para o refúgio da presença divina. É nela que encontramos consolo, discernimento e força para continuar. Mesmo quando a tempestade não cessa, o coração que confia em Deus aprende a descansar no meio dela.
E é nesse lugar de intimidade que percebemos: orar nunca é em vão. Pode não mudar a dor, mas muda o modo como lidamos com ela. Pode não abrir portas visíveis, mas abre caminhos dentro de nós. Quando oramos, Deus talvez não mude o mundo, mas certamente transforma o nosso coração para que nós tenhamos força para mudá-lo.